sexta-feira, 29 de junho de 2012

O ASSASSINATO


- Pra mim não há nada melhor que pensar por música- Dizia o pai ao filho de 14 anos.
Josinaldo, é pai de um adolescente muito inteligente, Cláudio.
Uma família simples como a maioria. Josinaldo, um taxista. A esposa, auxiliar de serviços gerais de uma escola pública. E Cláudio, um jovem estudante do nono ano do ensino fundamental.
O patriarca da famĺia, sempre se interessou por fazer de sua casa um ambiente fértil de conhecimento. Para isso sempre bebia de diversas fontes literárias, e das mais diversas expressões culturais, dentre elas a música.
Crescido nesse ambiente, Cláudio desenvolve-se diferenciadamente da maioria dos jovens de hoje. Seu comportamento, seu gosto musical não sofre influência do modismo momentâneo, fabricado pelas indústrias culturais.
    - Eu fico imaginando como a minha geração pode pensar por música, pai. O máximo que conseguirão concluir é que querem fazer um Tchu tcha tchá- fala o filho a Josinaldo.
    - Meu filho, desde que me entendo por gente, sempre teve esse tipo de músicas que toca a todo momento e não nos dizem nada, e as pessoas ouvem, cantam e dançam sem parar. Mas, nunca foi de uma maneira tão intensa como está sendo a gora. Nunca presenciei tanto lixo cultural sendo disparado para a populção. Estamos presenciando o assassinato de uma geração- Discorreu o pai.
    Josinaldo nunca foi um saudosista, sempre soube contemplar o novo. Por isso mesmo conseguiu que seu filho o acompanhasse nas preferencias musicais. Ele apresentou à Cláudio grandes vozes e letristas como Elis Regina, Chico Buarque, Milton Nascimento, Cazuza, Reanato Russo. E conheceram juntos grandes musicos contemporâneos como Fernando Anitelli, Lirinha , Zeca Baleiro e GOG.
    - Ah, Cláudio, você não vê que o Fernando Anitelli diz em uma de suas canções 'A minha TV tá louca, me mandou calar a boca e não tirar a bunda do sofá', a TV e todos os grandes meios de comunicação, servem-se ao papel de ditar o que devemos consumir, falar, dançar, ouvir, é manipulação pura.
    - Eu sei pai, meus amigos nenhum conhecem o Lirinha, por que não é o tipo de som que as radios tocam, não é uma atração permanente na televisão- Completou Claúdio.
    Muito atento ao que o filho falava, Josinaldo indagou:
    - E a escola meu filho, como se comporta diante disso tudo?
    - A escola é uma adolescente desprovida de orientação, é influênciada pela mídia. E ao invés de produzir cultura e resgatar as raízes populares, absorve tudo na maior subserviência- explanou o rapaz.
    Na verdade Josinei já previa a resposta do filho. Em suas visitas à escola de Cláudio, ele percebeu o tipo de cultura virgente na escola.
    - Vês, a escola é cumplice desse assassinato. A escola não pode descartar a bagagem trazida pelo alunos, mas deve traduzí-las em valores comportamentais e culturais, a partir disso interferindo qualificadamente gerando novas atitudes, fruto de um novo pensar- Explicou Josinei.
    Sentados na sala ouvindo Maria Rita, pai e filho desfrutam de um momento de conversa que poucos tem a oportunidade de ver nas famílias de hoje.

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