sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O Capacete Amarelo


O mundo é movido pelo consumo exacerbado, baseado exclusivamente na lógica da posse: É MAIS QUEM TEM MAIS!!!! Ou é o melhor quem COMPRA PRIMEIRO O PRODUTO DO MOMENTO.
Há três anos comprei uma motocicleta, impulsionado por vários motivos de uma realidade concreta e objetiva. Nessa perspectiva comprei uma moto DAFRA, uma motocicleta muito boa, diga-se de passagem. Junto com a motocicleta veio de brinde DOIS CAPACETES AMARELOS.
O acessório de segurança necessário e obrigatório aos motociclistas, veio muito bem a calhar naquele momento, mas mesmo assim prometi a mim mesmo que logo compraria um outro capacete pra mim, pois aquela cor chamava muita atenção.
E de fato não era uma combinação muito boa: moto preta e capacete amarelo. E sem falar que amarelo nunca foi de longe minha cor predileta. Mas devo confessar que sem perceber peguei um certo apreço pelo capacete amarelo. Meus amigos e familiares me sacaneavam por consequência da cor e da atenção atraída pelo capacete, e eu meio sem jeito dizia que o trocaria.
Passaram-se três anos e somente hoje comprei outro capacete ,preto, SAN MARINO. Só sei que ao coloca-lo na minha cabeça pela primeira vez, me sentir como todos os outros, de joelhos prostrados à publicidade que me diz diariamente o produto, e mais especificamente a marca que devo usar.
O capacete amarelo nesses três anos tornou-se meu cartão de visita. Lembro-me dos meus amigos dizerem que eu não conseguiria me esconder de nada com aquele capacete, pois de longe todos já sabiam que era eu.
As pessoas não percebem, mas todos os dias essa sociedade de consumo as modelam  para serem todas iguais: usar os mesmos produtos, as mesmas marcas, e comprar e comprar. Por isso quem foge do padrão chama atenção mesmo sem querer, torna-se o DIFERENTE.
Vivemos numa luta incessante de nos afirmarmos como sujeito munidos de especificidades, características enriquecida pela vida em comunidade e acabamos negando essa luta por um imperativo de consumo, de mercado, e nos tornamos então, um bando de abitolados apontando de forma condenadora àqueles resistentes ao padrão alienante.
Não vou mais ‘tirar onda de capacete amarelo’, como diria meu irmão, mas jamais vou esquecer o que de fato me fez usá-lo durante todo esse tempo, ele supria a minha necessidade: proteger-me num eventual acidente. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário