Com um beijo
Me despedir de minha companheira,
Com uma mochila na costa desci a ladeira
Rumo a parada do buzão.
Todos os dias a mesma cena,
Acordo com o lindo sorriso daquela pequena
Dizendo que é hora de levantar
Vestir um uniforme
E um personagem incorporar.
Mais um dia que meus filhos não me verão,
Assim como foi no inverno
Só me distancio deles a cada estação.
Sair as quatro da matina
E voltar às vinte
É uma rotina assassina
Do elo familiar.
Saudades do riso de minha bebê,
De Ajudar meu moleque na lição da escola,
Dos passeios na orla do cais,
Dos três gritando meu nome na beira do campo
enquanto eu jogo bola.
Pra sobreviver
Vivo preso num canteiro
Mas parecido com um campo de concentração
Pois aqui o nível de exploração
Foge dos parâmetros de comparação.
Sempre cochilo dentro da condução
E em alguns momentos sonho em dias melhores,
Construindo algo coletivo
Com riqueza igualmente distribuída
E não sejamos somente mão-de-obra consumida
Pelos abutres dessa pátria falida.
Não quero ser apenas mais um
Que perdeu sua vida nessa construção,
Quero ser lembrado como Sebastião,
Fiel companheiro da linda morena Janaína
Pai de duas crianças muito bem educadas.
Quando chego na obra
Sinto minha humanidade diminuída
Sendo apenas um ser de ações mecanizadas,
Atitudes pré-definidas.
Sem direito a argumentar,
Enxergo milhões de erros
E nenhum posso apontar,
Quem ousou tomou chá de sumiço,
Com certeza não posso arriscar.
No fim da jornada diária
Novamente no banco do ônibus
Como num processo de re-humanização
Sinto aperto no meu coração
Na louca vontade de chegar a tempo de ver meus
filhos acordados,
E depois nos braços de minha amada ser revitalizado.
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