-Maria!
Pega, trouxe pra você! É fantástico este livro!- Neide falou, retirando de sua
bolsa um livro cinza, antigo, já bem desbotado, e com as folhas amareladas se
soltando por conta do desgaste do tempo. Foi este presente o responsável pela
presença desta mulher banhando-se num chuveiro de motel às 18h da tarde de um
domingo.
Livro de Ana Zaffalon |
O
livro de poesias fora publicado em 1994. Maria, como amante da literatura, no
primeiro momento livre iniciou a leitura do presente. Pela capa, seria uma
viagem lenta e calma entre versos apaixonados e melosos. Foi o julgamento elaborado
por seu pré-conceito de uma escritora que ela nunca ouvira falar, Ana Zaffalon.
Maria,
separada há nove meses, vinha de um relacionamento, onde figurava mais o papel
de serviçal do que de uma esposa. Nos seus onzee anos de casamento, nem se
lembrava mais da última vez que sentira prazer na cama. Viveu seu matrimonio,
sufocando todos seus desejos, por conta de um marido machista e egoísta, que
não levava o sexo a mais que cinco minutos.
Coragem
e Caprichos de Mulher, o título do livro. Sem grandes expectativas, pulou a
apresentação, e foi direto às poesias.
Poemas
sem rimas. No quarto texto, Maria já sentira seus julgamentos anteriores à
leitura caírem por terra. Os versos, todos densos banhados numa sensibilidade
digna de apertar o peito de qualquer leitor.
Maria
lia, e ao mesmo tempo se perguntava como uma mulher tinha tanta liberdade pra
expor àqueles sentimentos, sensualidades, desejos se pudor algum. Ela começava
a invejar a autora, imaginava-se, ainda meio numa auto-recriminação sendo a
inspiração das poesias.
Era
tanto desejo reprimido, que Maria começou a rebuscar na memória a última vez
que tocara seu corpo intimamente.
Livro de Ana Zaffalon |
Sua
memória lhe trouxe os momentos de antes de conhecer seu ex-marido, de quando
saía na noite, provocava os homens com toda sua beleza e sensualidade, típica
de uma ninfeta de 19 anos, que dois anos de namoro e onze de casamento conseguiram
apagar.
Da
página 25 chegando à 27, Maria deu-se conta que apenas uma de suas mãos
segurava o livro, a outra inconscientemente percorrera seu corpo que estava
arrepiado e num calor involuntário, que a central de ar não dava conta de
esfriar.
Foi
a gota! Fechou o livro, foi pra de baixo do chuveiro e ensaboou seu corpo numa
demora como nunca tinha feito. E foi dormir.
Na
manhã seguinte, Maria-professora do fundamental menor- pegou sua bolsa e
dirigiu-se de pé ao trabalho como todos os dias. O trânsito infernal, fruto do
progresso chegado ao seu município. A cada esquina que ela passava, várias
pessoas esperando o ônibus pra ir até o canteiro de obras da barragem. A
maioria homens!
Estranhamente,
a professora, começou a ver mais que operários esperando a condução pra ir
trabalhar. Num dado momento pegou-se comendo um deles com os olhos de forma
descarada. E ao se perceber nesse ato lascivo, apressou os passos de forma
desconcertada.
Maria,
uma linda morena de cabelos cacheados, um corpo de dá inveja a muitas meninas
de 18 anos. Suas curvas delineadas sempre fizeram todos os homens pararem ao
vê-la passar. E por isso, enquanto casada, seu marido, a mantinha presa, era só
do trabalho pra casa, por conta de ciúmes, ao saber que ela chamava a atenção
de qualquer um aonde quer que fosse.
Uma
coisa era fato, Maria estava com a mente em êxtase, com a libido a flor da pele
como a muito tempo não se sentia. Tudo por conta das poesias de Ana.
Nesses
nove meses de separada, já fora assediada por vários homens tentando leva-la
pra cama. Mas não se sentia preparada pra outras experiências desse tipo nesse
momento da vida dela. Mas agora os desejos afloraram, e ela não conseguia mais
controlar.
Ao
chegar a noite, quando foi pra cama, pegou novamente o livro e retomou a
leitura.
Página
a página era tudo muito real. A escritora fora de uma precisão ao colocar em
versos cada fato, cada sentimento.
Em
Intimidade, como num manual de auto-caricia, sua mão chegou até sua calcinha,
que em movimentos contínuos lhe levara ao gozo, sensação que seu corpo não
sabia mais nem como era. Em Escrava, viu-se nos tempos de casada, e preferiu ir
dormir com as sensações do prazer tido a pouco.
Era
nova mulher. Um livro, 59 poesias, uma autora, despertara a mulher dentro de
Maria.
No
domingo a tarde, Neide lhe chamou pra ir à beira rio tomar uma cerveja, ouvir
musica e colocar as conversas em dias. E foram em cinco amigas, algumas casadas
outras solteiras. Na peixaria, tinha várias pessoas, dentre elas um homem
charmoso, que já havia por diversas vezes convidado Maria pra sair.
Ele,
Alberto, ao vê-la foi logo cumprimenta-la.
O
tempo foi passando, e já com a tarde findando, as amigas resolveram ir embora.
Na frente da peixaria, cada uma com seu transporte e Maria de carona com Neide.
Alberto apareceu e perguntou se não poderia leva-la. Sem hesitar, Maria aceitou, desceu da moto de Neide e
entrou no carro com o homem.
A
sós com Alberto, ela começou a lembrar-se do livro. Da mulher forte, corajosa e
dona de si exposta pelas poesias. E no ritmo da conversa, Maria falou:
-
Não quero nenhum homem na minha casa por enquanto, me leve a outro lugar!
Alberto
entendeu o comando e foi para o motel. Lá, Maria libertou suas fantasias. Não
houve qualquer vergonha, por ser a primeira vez com aquele homem. Ela o consumiu
como se fosse a primeira e última vez que transaria na vida.
Agora,
sentindo-se realizada banha-se no banheiro de um motel, experimentando a
sensação de liberdade, de se sentir mulher, de estar viva.
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