domingo, 10 de agosto de 2014

O tempo é impiedoso

Sexta-feira à noite, Ana e eu tomamos assento numa das mesas que estavam na calçada de um bar.
Pra nossa surpresa o garçom nos informou que não tínhamos muita opção de escolha na cerveja, pois a ponte que está quebrada no rio Arataú impossibilita a chegada de algumas mercadorias em nossa cidade, o que inclui a cerveja.
O cantor que animava a noite sabia passear pelo melhor de cada estilo da música brasileira, do brega ao requinte da mpb. Pra mim um ponto positivo do estabelecimento, nada melhor pra uma noite que uma boa canção à voz e violão, uma “breja” e um bom papo.
Não havia tanta gente, numa das mesas próximas, tinha um senhor já bem de idade, sozinho. Em determinado momento percebia-se que ele estava cochilando.
- Esse daí deve ter sido um daqueles machão que diz que não corre atrás de nenhuma mulher porque tem muitas por aí e acabou sozinho agora. – Comentou Ana.
Lá pelas 23h30, uma mulher aparentando ter 55 anos, loira, trajando uma camiseta azul e bermuda jeans, começou a dançar. A música que estava sendo cantada era a dama de vermelho, e a mulher passou a utilizar uma coluna de ferro que sustentava o telhado da calçada como se fosse uma pole-dance.
Quase todos ali começaram a olhar aquela cena horrorizados.
O cantor interrompeu a canção e de maneira extremamente deselegante falou:
- Com todo respeito, você é muito safada!
Fiquei imaginando a mesma cena com uma loira, só que 30 anos mais nova. Provavelmente seria a cereja do bolo na apresentação do cantor.
O tempo é impiedoso e a mulher é reprimida de se expressar em todos os momentos de sua vida!
Quando jovem tem de ter postura de “moça de família” pra não ser confundida com “uma qualquer” e não perder a oportunidade de se casar com um bom partido (acreditem ainda tem muito disso). E quando a idade avança, não pode, porque tem de apresentar um comportamento condizente com a idade, dá o exemplo aos mais novos (filhos, netos e o escambau).

Ana levantou-se pra ir ao banheiro, parou na mesa dessa mulher e a cumprimentou pela coragem.

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