Sexta-feira
à noite, Ana e eu tomamos assento numa das mesas que estavam na calçada de um
bar.
Pra
nossa surpresa o garçom nos informou que não tínhamos muita opção de escolha na
cerveja, pois a ponte que está quebrada no rio Arataú impossibilita a chegada
de algumas mercadorias em nossa cidade, o que inclui a cerveja.
O
cantor que animava a noite sabia passear pelo melhor de cada estilo da música
brasileira, do brega ao requinte da mpb. Pra mim um ponto positivo do
estabelecimento, nada melhor pra uma noite que uma boa canção à voz e violão,
uma “breja” e um bom papo.
Não
havia tanta gente, numa das mesas próximas, tinha um senhor já bem de idade,
sozinho. Em determinado momento percebia-se que ele estava cochilando.
-
Esse daí deve ter sido um daqueles machão que diz que não corre atrás de
nenhuma mulher porque tem muitas por aí e acabou sozinho agora. – Comentou Ana.
Lá
pelas 23h30, uma mulher aparentando ter 55 anos, loira, trajando uma camiseta
azul e bermuda jeans, começou a dançar. A música que estava sendo cantada era a
dama de vermelho, e a mulher passou a utilizar uma coluna de ferro que
sustentava o telhado da calçada como se fosse uma pole-dance.
Quase
todos ali começaram a olhar aquela cena horrorizados.
O
cantor interrompeu a canção e de maneira extremamente deselegante falou:
-
Com todo respeito, você é muito safada!
Fiquei
imaginando a mesma cena com uma loira, só que 30 anos mais nova. Provavelmente
seria a cereja do bolo na apresentação do cantor.
O
tempo é impiedoso e a mulher é reprimida de se expressar em todos os momentos
de sua vida!
Quando
jovem tem de ter postura de “moça de família” pra não ser confundida com “uma
qualquer” e não perder a oportunidade de se casar com um bom partido (acreditem
ainda tem muito disso). E quando a idade avança, não pode, porque tem de
apresentar um comportamento condizente com a idade, dá o exemplo aos mais novos
(filhos, netos e o escambau).
Ana
levantou-se pra ir ao banheiro, parou na mesa dessa mulher e a cumprimentou pela
coragem.
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