quinta-feira, 13 de julho de 2017

A história de uma donzela


O moço
Alto
Branco
De olhos azuis
Vestindo terno e gravata,
Sorriso brilhante
Conquistou a bela donzela

Promessas

Pairava no ar o futuro sonhado,
PROGRESSO,
Família feliz

Prosperidade

Mas num de repente
O amor, se foi...

O moço
Precificou
E mercantilizou
A donzela
Usou
Abusou
Fez sangrar
Gozou,
Inclusive na cara.

Violência

A donzela
Engravidou,
Pré-natal: espancamento diário,
Sobreviveu
À base de álcool,
Os bares das esquinas tornaram-se lar.

Dos bolsos do moço
Dinheiro jorrando,
O mercado de futuro tem seu nome
Seus filhos nem sobrenome

Concentração
                    De
                         Renda

Pobreza

Trampo nos canteiros
Ajudante de pedreiro
Mãos calejadas
INCHADA

DESESTABILIZADA

Trabalha
DOR(a)

Desaloja
Desinfecta
Toda proximidade do cartão postal,
Partiu,
Jatobá!

(REU)rbanizar

Marginaliza
Desapropria
Quem levanta o paredão

Colisão

Tráfego
Tráfico

Feminicídios
Etnocídio
Extermínio das juventudes

Os filhos da donzela não envelhecem.

Mas lá do alto,
O pai,
NES(s)A
Estrutura de poder
Cada vez mais rico,
Cada vez mais seguro
IMPONDO SEUS DESEJOS.

Não olha mais pra donzela,
Sofrida
Não é mais tão bela,
Ele sacia-se na prostituição
Tem cash para ser
Chush
Em qualquer lugar

A donzela de outrora
É um corpo doente
Saqueada.
De futuro roubado,
Desempregada,
Hoje não almoçou,

E vive sem energia elétrica em casa.

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