terça-feira, 27 de agosto de 2013

Rotina de Um Operário

Com um beijo
Me despedir de minha companheira,
Com uma mochila na costa desci a ladeira
Rumo a parada do buzão.
Todos os dias a mesma cena,
Acordo com o lindo sorriso daquela pequena
Dizendo que é hora de levantar
Vestir um uniforme
E um personagem incorporar.
Mais um dia que meus filhos não me verão,
Assim como foi no inverno
Só me distancio deles a cada estação.
Sair as quatro da matina
E voltar às vinte
É uma rotina assassina
Do elo familiar.
Saudades do riso de minha bebê,
De Ajudar meu moleque na lição da escola,
Dos passeios na orla do cais,
Dos três gritando meu nome na beira do campo enquanto eu jogo bola.
Pra sobreviver
Vivo preso num canteiro
Mas parecido com um campo de concentração
Pois aqui o nível de exploração
Foge dos parâmetros de comparação.
Sempre cochilo dentro da condução
E em alguns momentos sonho em dias melhores,
Construindo algo coletivo
Com riqueza igualmente distribuída
E não sejamos somente mão-de-obra consumida
Pelos abutres dessa pátria falida.
Não quero ser apenas mais um
Que perdeu sua vida nessa  construção,
Quero ser lembrado como Sebastião,
Fiel companheiro da linda morena Janaína
Pai de duas crianças muito bem educadas.
Quando chego na obra
Sinto minha humanidade diminuída
Sendo apenas um ser de ações mecanizadas,
Atitudes pré-definidas.
Sem direito a argumentar,
Enxergo milhões de erros
E nenhum posso apontar,
Quem ousou tomou chá de sumiço,
Com certeza não posso arriscar.
No fim da jornada diária
Novamente no banco do ônibus
Como num processo de re-humanização
Sinto aperto no meu coração
Na louca vontade de chegar a tempo de ver meus filhos acordados,
E depois nos braços de minha amada ser revitalizado.

sábado, 24 de agosto de 2013

O Livro

-Maria! Pega, trouxe pra você! É fantástico este livro!- Neide falou, retirando de sua bolsa um livro cinza, antigo, já bem desbotado, e com as folhas amareladas se soltando por conta do desgaste do tempo. Foi este presente o responsável pela presença desta mulher banhando-se num chuveiro de motel às 18h da tarde de um domingo.
Livro de Ana Zaffalon
O livro de poesias fora publicado em 1994. Maria, como amante da literatura, no primeiro momento livre iniciou a leitura do presente. Pela capa, seria uma viagem lenta e calma entre versos apaixonados e melosos. Foi o julgamento elaborado por seu pré-conceito de uma escritora que ela nunca ouvira falar, Ana Zaffalon.
Maria, separada há nove meses, vinha de um relacionamento, onde figurava mais o papel de serviçal do que de uma esposa. Nos seus onzee anos de casamento, nem se lembrava mais da última vez que sentira prazer na cama. Viveu seu matrimonio, sufocando todos seus desejos, por conta de um marido machista e egoísta, que não levava o sexo a mais que cinco minutos.
Coragem e Caprichos de Mulher, o título do livro. Sem grandes expectativas, pulou a apresentação, e foi direto às poesias.
Poemas sem rimas. No quarto texto, Maria já sentira seus julgamentos anteriores à leitura caírem por terra. Os versos, todos densos banhados numa sensibilidade digna de apertar o peito de qualquer leitor.
Maria lia, e ao mesmo tempo se perguntava como uma mulher tinha tanta liberdade pra expor àqueles sentimentos, sensualidades, desejos se pudor algum. Ela começava a invejar a autora, imaginava-se, ainda meio numa auto-recriminação sendo a inspiração das poesias.
Era tanto desejo reprimido, que Maria começou a rebuscar na memória a última vez que tocara seu corpo intimamente.
Livro de Ana Zaffalon
Sua memória lhe trouxe os momentos de antes de conhecer seu ex-marido, de quando saía na noite, provocava os homens com toda sua beleza e sensualidade, típica de uma ninfeta de 19 anos, que dois anos de namoro e onze de casamento conseguiram apagar.
Da página 25 chegando à 27, Maria deu-se conta que apenas uma de suas mãos segurava o livro, a outra inconscientemente percorrera seu corpo que estava arrepiado e num calor involuntário, que a central de ar não dava conta de esfriar.
Foi a gota! Fechou o livro, foi pra de baixo do chuveiro e ensaboou seu corpo numa demora como nunca tinha feito. E foi dormir.
Na manhã seguinte, Maria-professora do fundamental menor- pegou sua bolsa e dirigiu-se de pé ao trabalho como todos os dias. O trânsito infernal, fruto do progresso chegado ao seu município. A cada esquina que ela passava, várias pessoas esperando o ônibus pra ir até o canteiro de obras da barragem. A maioria homens!
Estranhamente, a professora, começou a ver mais que operários esperando a condução pra ir trabalhar. Num dado momento pegou-se comendo um deles com os olhos de forma descarada. E ao se perceber nesse ato lascivo, apressou os passos de forma desconcertada.
Maria, uma linda morena de cabelos cacheados, um corpo de dá inveja a muitas meninas de 18 anos. Suas curvas delineadas sempre fizeram todos os homens pararem ao vê-la passar. E por isso, enquanto casada, seu marido, a mantinha presa, era só do trabalho pra casa, por conta de ciúmes, ao saber que ela chamava a atenção de qualquer um aonde quer que fosse.
Uma coisa era fato, Maria estava com a mente em êxtase, com a libido a flor da pele como a muito tempo não se sentia. Tudo por conta das poesias de Ana.
Nesses nove meses de separada, já fora assediada por vários homens tentando leva-la pra cama. Mas não se sentia preparada pra outras experiências desse tipo nesse momento da vida dela. Mas agora os desejos afloraram, e ela não conseguia mais controlar.
Ao chegar a noite, quando foi pra cama, pegou novamente o livro e retomou a leitura.
Página a página era tudo muito real. A escritora fora de uma precisão ao colocar em versos cada fato, cada sentimento.
Em Intimidade, como num manual de auto-caricia, sua mão chegou até sua calcinha, que em movimentos contínuos lhe levara ao gozo, sensação que seu corpo não sabia mais nem como era. Em Escrava, viu-se nos tempos de casada, e preferiu ir dormir com as sensações do prazer tido a pouco.
Era nova mulher. Um livro, 59 poesias, uma autora, despertara a mulher dentro de Maria.
No domingo a tarde, Neide lhe chamou pra ir à beira rio tomar uma cerveja, ouvir musica e colocar as conversas em dias. E foram em cinco amigas, algumas casadas outras solteiras. Na peixaria, tinha várias pessoas, dentre elas um homem charmoso, que já havia por diversas vezes convidado Maria pra sair.
Ele, Alberto, ao vê-la foi logo cumprimenta-la.
O tempo foi passando, e já com a tarde findando, as amigas resolveram ir embora. Na frente da peixaria, cada uma com seu transporte e Maria de carona com Neide. Alberto apareceu e perguntou se não poderia leva-la. Sem hesitar,  Maria aceitou, desceu da moto de Neide e entrou no carro com o homem.
A sós com Alberto, ela começou a lembrar-se do livro. Da mulher forte, corajosa e dona de si exposta pelas poesias. E no ritmo da conversa, Maria falou:
- Não quero nenhum homem na minha casa por enquanto, me leve a outro lugar!
Alberto entendeu o comando e foi para o motel. Lá, Maria libertou suas fantasias. Não houve qualquer vergonha, por ser a primeira vez com aquele homem. Ela o consumiu como se fosse a primeira e última vez que transaria na vida.
Agora, sentindo-se realizada banha-se no banheiro de um motel, experimentando a sensação de liberdade, de se sentir mulher, de estar viva.


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Ouvindo Buarque (Não Canso de Contemplá-la)

Ouvindo Buarque
É impossível não lembrar de ti,
Da letra
À melodia
É sempre pura fantasia
Pois todas elas fazem na minha mente uma linda fotografia
De teu rosto numa tela surreal.
Em A História de Lylli Braun
Ou A Moça do Sonho
Te imagino figurando
As mesmas cenas
Ou refazendo-as na contramão.
Buarque canta tua alma desenhada em meus devaneios,
Tornando-a moça procurada pelo samba
Ou a Pequena rendendo um blues
E no fim,
Surge no horizonte de uma tarde fria como a Nina,
E num de repente dou-me de cara com uma Sinhá.
-Por Deus nosso Senhor, não precisava me acordar!
E quando inicio um flerte com a lucidez
Apareces em minha frente num vestido florido
E fico louco varrido
Sentindo tudo outra vez.
No fundo, queria-te Aurora
E roubar uma canção só pra nós
Juntamente com teu coração pra mim,
E todos os dias despertar com o sussurro de tua voz.

domingo, 18 de agosto de 2013

O Gosto da Maçã

Tive uma sacada esta manhã
Percebi que assim como a maçã mordida
É o gosto da rapariga
Colada a meu corpo depois de toda despida.
Essa sacada de agora,
Veio lentamente,
Lapidada descaradamente
Ao passear por entre as pernas daquela morena.
Eu agia como numa romaria
Tão devoto àquele corpo
Amando-a como se ela fosse só minha,
E na prece:
Tempo, eternize esse momento
Para eu ter chance de salvação.
E não foi dessa vez que fui atendido

E findei sobre seu corpo desfalecido.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Equação da Vida

Tento descobrir uma fórmula capaz de equacionar de forma perfeita os problemas da vida, e num passe algébrico, ao encontrarmos um problema, sempre findarmos com uma solução desejada.

E nessas tentativas termino tendo continuamente a mesma conclusão: cada um de nós somos o problema, a fórmula e a solução. O que não aprendemos foi interpretar as questões, e manipular corretamente cada operação necessária.

domingo, 11 de agosto de 2013

A Princesa, a Pororoca, a Gata do Zóio Podi e o Raimundinho

Tornei-me pai aos quinze anos. Um pai fora do comum, pai da minha sobrinha.
A PRINCCESA
Minha imã engravidou aos 16 anos, e infelizmente como é de costume, o homem foge da responsabilidade. Ela continuou morando na casa da minha mãe como deveria ser.
Sempre fomos uma família unida. Minha irmã deu a luz a uma linda criança, Aline. E me apaixonei por aquela bebê na hora que a vi.
O tempo foi passando e eu juntamente com minha mãe ia ajudando minha irmã a cuidar de Aline. Aos poucos ela só dormia em meus braços. Quando ela acordava a noite, eu que ia fazê-la dormir novamente. Nessa época eu era engraxate, e quando eu chegava meio dia em casa que falava, Aline levantava-se cambaleando no berço e ficava me procurando. Reconhecia minha voz de longe. E sem perceber, ouvi sua doce voz me chamando de pai. Eu era apenas um moleque de 15 anos, e tornei-me pai da minha sobrinha, minha Princesa sem perceber. Hoje vejo que foi um presente pra mim.
A POROROCA
Sete anos depois veio a Rebeka, irmã da Aline também. Novamente o pai fugiu da responsabilidade. Minha irmã voltou pra casa e deu a luz à mais nova membra da família.
Rebeka foi crescendo e toda a família cuidando dela, dando amor e carinho, e acho que por ela ver a Aline me chamando de pai, aprendeu também a fazer o mesmo.
Diferente da Aline, Rebeka é uma espoleta, quer ser toda independente. Por onde passa faz uma bagunça danada (kkkkk). Aí apelidamos ela de Pororoca (uma onda ocasionada pelo encontro das águas do rio com as águas do mar). Um dias desse um amigo nosso falou “Ei Pororoca!”, não deu nem tempo terminar e ela disse que só quem podia chamar ela assim era o pai dela (EU).
Hoje minha irmã tem um companheiro que mora com ela, e cuida muito bem da minha pequena Pororoca, mais de vez enquanto ela me liga escondido da mãe dela e fala “ Pai quando o senhor vem me buscar pra passar o dia contigo, a vovó, a Aline e a Maria?”
Aos 23 anos, eu namorava uma moça e ela engravidou. Veio então a Maria Luiza!
O meu relacionamento com a mãe dela não continuou, e veio a grande contradição, tinha a minha filha somente aos fins de semana.
A GATA DO ZÓIO PODI
Mas sempre foram momentos que valorizei bastante. Ainda bem que sempre estive por perto da minha mãe pra me instruir como trocar a fralda, a maneira certa de fazer o mingau. Ser pai é um aprendizado constante.
Em novembro Maria completa 5 anos.
Esse ano ela passa a semana toda comigo e os fins de semana com a mãe dela. Por consequência do trabalho de sua mãe, invertemos a ordem anterior.
Eu chamo Maria, de Gata do Zóio Podi, acho lindo os olhos dela, e ela respondi “ para pai com isso” e começa a rir. Agora pouco ela me ligou e falou que me amava um tantão.
Há dois anos e meio atrás veio o Raimundinho, também outro sobrinho. Mora aqui em casa. Danado!
Toda hora está aprontando. E quando eu reclamo, ele pergunta se não amo mais ele.
Raimundinho fica muito bravo quando eu chego em casa que tenho que sair logo, e diz “não vai trabalhar não pai, brinca comigo”.
RAIMUNDINHO
Na verdade Raimundinho se chama Henrique Tauã, mas comecei a chamar ele assim e pegou geral.
Tem muita diferença em educar um menino e uma menina.
Posso afirmar que a Princesa, a Pororoca, a Gata do Zóio Podi e o Raimundinho são pessoas que entraram na minha vida pra me edificar. Sei que tenho muito que melhorar, mais parte de minhas qualidades surgiram divido a existência dessas quatro crianças. Sei que tudo que eu fizer elas estarão olhando e levarão consigo pra sua formação e atitudes futuras.
No dia de hoje, só posso agradecer pelo presente que é ser Pai dessas crianças! Já ganhei beijos e abraços, declarações de amor que são de fato verdadeiras. É a recompensa por ser um Pai presente! A melhor recompensa!
Gostaria que todos os pais se dessem a chance de está ao lado de seus filhos, de crescer e aprender junto de cada um. Eu estou me esforçando ao máximo.
É triste ver homens que findam o relacionamento com as mulheres e esquecem-se dos filhos que tiveram com elas. Pra ser pai não é preciso está junto com a mãe.
Parabéns aos homens que de fato são Pai!
Parabéns às mulheres que não tiveram escolha senão assumir o papel do pai que fugiu da responsabilidade.




segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Ausência Inesperada

Estou sangrando, amor,
Sangrando pelos olhos
Pelo coração
Pelo pulmão,
Sangrando por causa desse amor torto.
Nesse mundo tudo tão banal
Tudo comercializado,
Porque o nosso amor
Havia de ser errado?
Só não queria ser a parte frágil
Ter minha vida se acabando num naufrágio.
Na droga do celular
Não tem mais nenhuma chamada com o número esperado,
Desesperado,
Crio mil teses pra tua ausência,
Tua fuga inesperada.
Antes de ir, custava lembrar o nosso combinado?
Tínhamos um passeio no sábado que vem,
Havia a possibilidade de juntos termos um neném,
E agora?
Terei que guardar todos nossos planos
Que irão me  acompanhar não sei por quantos anos,
Forçadamente voltarei ao marco zero
Mas como,
Essa ferida no peito é uma puta fácil?
E factual

Traço um ritual pra te trazer de volta só pra mim.