quarta-feira, 31 de agosto de 2016

61 tiros na democracia


Democracia é baleada com 61 tiros,
Segundo nota do jornal
A vítima ainda vive
Mais o estado é de risco eminente de morte.

O corpo foi encontrado
Jogado à própria sorte,
A junta médica é enfática:
Caso sobreviva ficará com sequelas irreversíveis.

Foi apurado no local do crime
Que outros tantos saíram feridos gravemente,
A Dona Previdência arqueja num leito frio,
O Sr. Direitos Trabalhistas
Terá as duas pernas amputadas e corre risco de perder os braços,
Sem vagas na UTI
O SUS sobrevive em coma induzido,
O distinto Ensino Público
Está escondido, pois presenciou o ataque e sofre ameaças constantes.

É tempo de luto
Mas não de medo
A vida persiste em florir na nossa luta
E somente assim de pé
Brotará a vitória dos oprimidos e injustiçados.

Podem até nos atacar
Mas o cavalheiro da morte não nos tirará a esperança de um mundo justo.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Serpente Noturna



A solidão
Vem lhe fazer companhia diariamente
Fiel igual um cão de guarda,
Chega com seu beijo frio
Fazendo chover lembranças e saudades.
Firme a poetiza não se entrega
Pega suas armas
Para combater sua inimiga íntima.
Em intenso conflito interior
A ordem se estabelece compassadamente
Na medida em que o papel torna-se prisão da serpente noturna,
E tudo finda na paz de uma poesia banhada em lágrimas.

Eva

A Flor e Vitoriano Bill


Cai a veste 
E nua ela se apresenta

Enxerga-se sem adereços
Sem lenços 
Sem acalentos de outras mãos se não as dela mesma

Em curvas 
Esbarra nos olhares que à condenam 

Por um instante ela sente medo
Mas enfrenta-los é a superação da submissão.

Ela se toca
Se sente
 E se deságua no prazer de se ter

Mostrar o corpo
Não é perversão
É o reencontro da liberdade original.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Baile da Flor



A flor
Revela-se nua
Pronta à transar o vento
Bailar no tempo
E invadir pensamentos.

Sem folhas
Nem espinhos
Oferece-se como uma taça de vinho numa noite boêmia,
E diz
Beba-me
Deixe sua boca me sentir
Não se contente somente em admirar-me.

A flor
Sorriso ao céu
Na escuridão noturna,
Lascívia tortura os pensamentos de sua admiradora.

Beije-me
Toque-me com seus lábios
Até tua chuva nos encharcar de vida.

Migalhas


Migalhas de pão
Ao padeiro

Casa de papelão
Ao pedreiro

À puta
A vontade de gozar

Ao vendedor de passagem
O sonho viajar

Ao sapateiro
Os pés no chão

À todos que trabalham
A condenação
À miséria.

Contradição.

Mas o que move o capital
(Ganância)
Esquece
Que não é lícito nenhum ser humano morrer de fome.


quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Na parede nua



Nua 
Exposta 

Tu boca 
Clama 
Tua pele em chama 

Pêlos arrepiados 
Molhada 
O desejo escorre 

Se abre 
Mete os dedos 
E me chama 
Em chamas 

Teu corpo incendeia 
Minha mente.

No seio da madrugada


No seio da noite
Deslizam segredos
Com a língua
E a mão em movimento.

A mente quente
Aquece a pele
Com delírios ardentes.

Os segredos deslizam
Iguais ao líquido
Escorrendo entre as pernas.

Tempo de chuva lá fora
Corpo em tempestade
Verdades ditas
Desejos compartilhados no seio da noite

É feito febre forte.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Todo sabor da vida



Fugiram da multidão
Atravessaram a escuridão
Enfrentaram os espinhos
E no caminho se descobriram numa simples troca de olhar.

Guiados pelo afeto
Deleitaram Hilda Hilst
E uma garrafa de vinho.

Quando perceberam não serem mais sozinhos
O abraço
Transformou-se em amasso
Os versos em mordidas.

Eretos
Entregaram-se
Ao prazer mútuo.

Em paz
Os dois rapazes repousaram no colo um do outro

Após sentirem o sabor de perder as forças no corpo de quem se ama.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Vou contar tudo pra Deus



O Mar Mediterrâneo é rota de fuga. 
A Síria, um palco de guerra 
Rende vendas de armas, audiências nos jornais, 
Belas imagens da morte, da dor, um espetáculo do horror. 

Muitos escombros  
De uma humanidade em ruínas, 
Arquitetada pela ganância. 

Atravessar o Mar dos destroços é a saída 
Do sangue, da mira da bala, do terror. 
Há fome de pão e sede de vida, ainda saciado pela esperança. 

Milhares de mortes de adultos e crianças, 
Financiadas pela sanha do poder. 
A Síria não é exceção, tem muita gente morrendo aqui também, 
Iguais as crianças de lá, outras tantas padecem no Brasil. 

'Vou contar tudo pra Deus' 
E perguntar a Ele, 
Se o amor é bélico, 
Quando será a hora de sacar as flores 
E fazer surgir novo dia 
Inocente como o riso infantil?

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Black Power

Descobri que sou preto
Agora sei dos irmãos em Soweto,
Das vítimas da chacina da Candelária
E que devido a cor, nossa pele é alvo certo pra navalha.


Nariz
Os lábios grossos
Sempre neguei
Quanto à pele, moreno.
Por muito tempo o país branqueei.

Vi as minas se encontrando nas chapinhas
Os manos em cortes de cabelos na um
Eu enquadrado no sistema
Assistindo o extermínio de outros pretos
Dizendo menos um.

Descobri que sou preto
Agora com o cabelo black
Dô o toque pros muleques
Não admita chacota, nem apelidos depreciativos
Por conta de sua cor.

Na verdade,  aceitei - me como preto
Porém,  o peso dessa aceitação
É o mesmo que lutar contra a crucificação
Agora enxergo o preconceito.

Aceitei- me como preto
E não finjo mais não ver
Toda a exclusão racial.

Black Power,
Mudei, me aceitei
Hoje
O preto que sou é um nego nagô.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Partes



Pêlo
Pele
Boca
Língua
Tato
Contato
Aperto
Amasso
Lamber
Chupar
Meter
Comer
Gozar
Gozar.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Tanta noite nos olhos dela


Tanta noite nos olhos dela
E nenhuma estrela naquele sorriso.

Como se todas as nuvens do mundo
Se concentrassem sobre seu semblante.

Não era simplesmente tristeza.
As lembranças de um passado distante

Lhe visitavam todas as vezes que o sol se punha.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Entidades no zap zap


Eita que esse zap zap
Já num era coisa de Deus
Ele sempre pareceu um eterno carnaval
Imagina agora que deu
O sinal de partida pra campanha eleitoral.

Desde cedo o aparelho tá possuído
Um povo que andava sumido
Resolveu baixar
No pobre do meu celular.

A cada download uma entidade diferente
Dizendo que é gente da gente
Aparece pra me assombrar
Com 2 ou 5 dígitos pra eu decorar.

São entidades com nomes de todo jeito
De vereador a prefeito
É o ciclano Batata, o fulano do Caça,
Gente com nome pai, outra com nome do marido
Ou com nome do partido
Mas faz campanha pra oposição.

Apresentam remédio pra todo mal
Só não tem jeito pra cara de pau
De certos candidatos a prefeito e vereadores
Que são verdadeiros traidores
Mas que se fingem de anjo no processo eleitoral.

Ô zap zap medonho
Vou chamar Pai Antônio
Pra ti libertar

Cansei desses espíritos baixando no meu celular.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

O frio que não dormia


Madrugada
Fazia frio
Desligar o ventilador não adiantou,
O edredom
Não aqueceu aquele insone inquieto.
O esforço pra dormir não dava certo.
Cantarolou mentalmente uma música calma
Ainda assim
A tática infalível pra dormir não deu certo,
O frio intenso incomodava.
A cama se agigantou tanto, parecia um imenso deserto.

O frio

Era somente a temperatura da solidão

Lembrando que a madrugada pode ser mais longa que uma semana inteira.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Chá Verde


O relógio marca 21h 3 min
Sentado à beira da cama tomo chá verde,
Com folhas em branco em cima d'O Símbolo Perdido
Tento escrever e nada me ocorre.
A colcha que cobre a cama tem estampa florida,
À minha frente, mais a direita, tem um vaso de flores artificiais,
Na frente da casa um jardim,
E em minha mente
A Flor que está distante de mim.

O chá quase acabando...

Paredes de madeira,
Um porta - retratos em formato de guitarra
Com imagens do Kurt Colbain
Pendurado próximo a porta.

Silêncio.

O chá acabou,
Nenhuma grande idéia me ocorreu
E a poesia não aconteceu...

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

É fogo


Bater de frente
Rodar na pista
Fechar os olhos
Ficar atônito
Perder o norte.

Em meio ao fogo
O desespero.

Agora as lágrimas correm
Feito o carro no asfalto          ‘
E a melancolia
Toma conta da alma
Igual a poeira da Transamazônica cobre a tudo e todos.

Um piscar de olhos tudo muda.

A felicidade
Os planos
Parecem terem ficado na curva que nos parou.

Há hematomas que não são expostos
Que o tempo passe logo
Pra dor ser apenas fingimento de poeta.





A eleição chegou


A eleição chegou
De tudo na nossa porta começou a aparecer
Rico, pobre, pastor, doutor
Pedindo voto querendo se eleger.

Tudo muito educado
Chegam, conversam
Tomam café, senta um bocado
E no final se despedem com um abraço apertado.

É cada tipo de candidato
Com propostas de tudo quanto é jeito
De vereador a prefeito
Parece anjo perfeito dando o pulo do gato.

Promete - se fazer pontes
Abrir estradas, criar hospitais
Tem quem prometa que aonde faz lama
Não vai chover mais.

Honestos, todos são
Sentem até urticaria ao ouvir a palavra corrupção
Querem voto para trabalhar pelo povo
Com esse argumento
Tem gente querendo se eleger de novo.

É tanto candidato
De tudo quanto é maneira
Uns que falam sério
Outros falam besteiras.

Uns rogam a Deus
Outros fazem heresia
Fico só observando
- É isso a festa da democracia?

Nesse sistema eleitoral falido
Quem padece mesmo é o trabalhador
Os ricos com caixa dois
E o operário até o bolso da calça furou.

Enquanto não houver uma reforma política popular
O processo eleitoral de circo não vai passar
A elite será maioria
E a classe trabalhadora tentando encontrar uma fresta pra entrar.