O
mundo é movido pelo consumo exacerbado, baseado exclusivamente na lógica da
posse: É MAIS QUEM TEM MAIS!!!! Ou é o melhor quem COMPRA PRIMEIRO O PRODUTO DO
MOMENTO.
Há
três anos comprei uma motocicleta, impulsionado por vários motivos de uma
realidade concreta e objetiva. Nessa perspectiva comprei uma moto DAFRA, uma
motocicleta muito boa, diga-se de passagem. Junto com a motocicleta veio de
brinde DOIS CAPACETES AMARELOS.
O
acessório de segurança necessário e obrigatório aos motociclistas, veio muito
bem a calhar naquele momento, mas mesmo assim prometi a mim mesmo que logo
compraria um outro capacete pra mim, pois aquela cor chamava muita atenção.
E de
fato não era uma combinação muito boa: moto preta e capacete amarelo. E sem
falar que amarelo nunca foi de longe minha cor predileta. Mas devo confessar
que sem perceber peguei um certo apreço pelo capacete amarelo. Meus amigos e
familiares me sacaneavam por consequência da cor e da atenção atraída pelo
capacete, e eu meio sem jeito dizia que o trocaria.
Passaram-se
três anos e somente hoje comprei outro capacete ,preto, SAN MARINO. Só sei que
ao coloca-lo na minha cabeça pela primeira vez, me sentir como todos os outros,
de joelhos prostrados à publicidade que me diz diariamente o produto, e mais
especificamente a marca que devo usar.
O
capacete amarelo nesses três anos tornou-se meu cartão de visita. Lembro-me dos
meus amigos dizerem que eu não conseguiria me esconder de nada com aquele
capacete, pois de longe todos já sabiam que era eu.
As
pessoas não percebem, mas todos os dias essa sociedade de consumo as modelam para serem todas iguais: usar os mesmos produtos,
as mesmas marcas, e comprar e comprar. Por isso quem foge do padrão chama
atenção mesmo sem querer, torna-se o DIFERENTE.
Vivemos
numa luta incessante de nos afirmarmos como sujeito munidos de especificidades,
características enriquecida pela vida em comunidade e acabamos negando essa
luta por um imperativo de consumo, de mercado, e nos tornamos então, um bando
de abitolados apontando de forma condenadora àqueles resistentes ao padrão alienante.
Não
vou mais ‘tirar onda de capacete amarelo’, como diria meu irmão, mas jamais vou
esquecer o que de fato me fez usá-lo durante todo esse tempo, ele supria a
minha necessidade: proteger-me num eventual acidente.