domingo, 15 de julho de 2012

Não é invasão é ocupação


- Quanta gente filmando e fotografando nós, tamo até parecendo famoso. - Fala Rosana à sua mais nova amiga.
- Só que nós vamo aparecer no jornal como criminoso, eles num tão aqui pra ouvir o nosso lado, tão aqui pra registrar um crime. - Responde Josi,a amiga.
 Quando as duas mulheres resolveram fazer parte do grupo que ocuparia uma área desocupada nas margens de um bairro periférico, não mensuraram o tamanho da pressão que receberiam quando o reclamante da posse da terra aparecesse.
Ninguém escolhe ser chamado de invasor, as circunstâncias obrigam cada um se arranjar como pode, se adaptar. Rosana, mãe de três crianças, solteira, trabalha como doméstica para receber no fim do mês um mísero salário mínimo, mais o bolsa família no valor de cento e vinte reais. Ela sempre morou de aluguel, numa pequena casa na periferia de Altamira, nunca se reclamou da vida por nada, sempre foi à luta. No entanto mês passado a dona da casa falou que aumentaria o valor do aluguel. Ela se assustou:
- Trezentos reais? Eu só pago cem reais por mês e agora vai para trezentos?!
A proprietária com muita calma explicou que o valor do aluguel estava caro por conseqüência da procura, tinha muita gente chegando à cidade. Rosana já sabia desse aumento dos aluguéis na cidade, mas não imaginava que poderia lhe afetar, afinal ela mora num bairro afastado, longe de polícia, de hospital, longe de tudo. Dona Lúcia, a proprietária deu o ultimato: ou paga o novo valor ou terá que desocupar a casa. No dia seguinte Rosana saiu à procura de uma nova casa para alugar, mas depois de algum tempo ela percebeu que não havia placas de aluguel, e nas poucas que tinha, ouvia sempre um valor exorbitante.
À noite, uma vizinha, dona Josefa, foi lhe visitar e durante a conversa sobre sua saga à procura de uma casa para alugar, dona Josefa falou:
- É por causo da barragi muié, essa cidade tá um inferno, pobre aqui num pode viver mais. Deixa eu ti falar uma coisa, o filho da dona Maria do João tá juntando um povo pra invadir aquele terreno ali no fim do bairro, lá cabe muita gente, ele só quer gente que num tem casa mesmo. Mas que imediatamente Rosana foi à procura do filho de dona Maria do João e pediu pra ir junto na invasão.
- A partir de agora não fale mais invasão, é ocupação. - Disse o homem.
Como combinado, às seis da manhã de uma quarta-feira de Julho, homens e mulheres, seguiram rumo ao terreno munidos de facão, foices e enxadas. Lá chegando foram desbravando o matagal, enquanto alguém tratava de ir dividindo os terrenos.
Agora em plena nove horas da manhã estão todos cercados por repórteres e policiais, e alguém com uns papéis na mão dizendo ser o dono da terra, mesmo a cidade toda sabendo que aquele terreno sempre foi da prefeitura.
Com lágrimas nos olhos, Rosana se pergunta se vale a pena passar por aquilo tudo, ouvir que vai ser presa, ser tratada como criminosa. E a resposta era sim, se não fosse dessa forma ela não conseguiria dá um teto à seus filhos. E num ato espontâneo gritou que não arredaria o pé até que mostrassem o documento de reintegração de posse.
- Terra para quem trabalha! – Gritou Rosana.

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