- Quanta gente filmando e
fotografando nós, tamo até parecendo famoso. - Fala Rosana à sua mais nova
amiga.
- Só que nós vamo aparecer no
jornal como criminoso, eles num tão aqui pra ouvir o nosso lado, tão aqui pra
registrar um crime. - Responde Josi,a amiga.
Quando as duas mulheres
resolveram fazer parte do grupo que ocuparia uma área desocupada nas margens de
um bairro periférico, não mensuraram o tamanho da pressão que receberiam quando
o reclamante da posse da terra aparecesse.
Ninguém escolhe ser chamado de
invasor, as circunstâncias obrigam cada um se arranjar como pode, se adaptar.
Rosana, mãe de três crianças, solteira, trabalha como doméstica para receber no
fim do mês um mísero salário mínimo, mais o bolsa família no valor de cento e
vinte reais. Ela sempre morou de aluguel, numa pequena casa na periferia de
Altamira, nunca se reclamou da vida por nada, sempre foi à luta. No entanto mês
passado a dona da casa falou que aumentaria o valor do aluguel. Ela se
assustou:
- Trezentos reais? Eu só pago cem
reais por mês e agora vai para trezentos?!
A proprietária com muita calma
explicou que o valor do aluguel estava caro por conseqüência da procura, tinha
muita gente chegando à cidade. Rosana já sabia desse aumento dos aluguéis na
cidade, mas não imaginava que poderia lhe afetar, afinal ela mora num bairro
afastado, longe de polícia, de hospital, longe de tudo. Dona Lúcia, a
proprietária deu o ultimato: ou paga o novo valor ou terá que desocupar a casa.
No dia seguinte Rosana saiu à procura de uma nova casa para alugar, mas depois
de algum tempo ela percebeu que não havia placas de aluguel, e nas poucas que tinha,
ouvia sempre um valor exorbitante.
À noite, uma vizinha, dona
Josefa, foi lhe visitar e durante a conversa sobre sua saga à procura de uma
casa para alugar, dona Josefa falou:
- É por causo da barragi muié,
essa cidade tá um inferno, pobre aqui num pode viver mais. Deixa eu ti falar
uma coisa, o filho da dona Maria do João tá juntando um povo pra invadir aquele
terreno ali no fim do bairro, lá cabe muita gente, ele só quer gente que num
tem casa mesmo. Mas que imediatamente Rosana foi à procura do filho de dona
Maria do João e pediu pra ir junto na invasão.
- A partir de agora não fale mais
invasão, é ocupação. - Disse o homem.
Como combinado, às seis da manhã
de uma quarta-feira de Julho, homens e mulheres, seguiram rumo ao terreno
munidos de facão, foices e enxadas. Lá chegando foram desbravando o matagal,
enquanto alguém tratava de ir dividindo os terrenos.
Agora em plena nove horas da
manhã estão todos cercados por repórteres e policiais, e alguém com uns papéis
na mão dizendo ser o dono da terra, mesmo a cidade toda sabendo que aquele
terreno sempre foi da prefeitura.
Com lágrimas nos olhos, Rosana se
pergunta se vale a pena passar por aquilo tudo, ouvir que vai ser presa, ser
tratada como criminosa. E a resposta era sim, se não fosse dessa forma ela não
conseguiria dá um teto à seus filhos. E num ato espontâneo gritou que não
arredaria o pé até que mostrassem o documento de reintegração de posse.
- Terra para quem trabalha! –
Gritou Rosana.
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