terça-feira, 19 de agosto de 2014

Véi

Véi
Num tem aquele muluque
Que tu chamou de noiado
Só porque ele andava com os zóios avermelhados?

Véi
Aquele
Que tem uma tatuagi
Que tu disse que é marca da gangue do Ladruagi.

Véi
Num tem
Aquele que tu disse assim
“Lá vai o marginal ainda com cabelo do último carnaval”.

Véi
O doido que tinha na orelha um alargador
Um piercing no nariz
Que tu chamava de hip desertor.

Então,
A tatuagi
É uma homenagem
Que ele fez quando a mãe dele faleceu.

O cabelo
Não tem muito o que explicar
É que todo adolescente quer parecer com o Neymar.

O alargador e o piercing
Foi presente da mina
Colega da turma de pré-vestibular,
Presente de uma gata
Nem eu ia recusar.

Véi
Mas o pior tu num sabe
Aqueles zóios vermelhos
Era de tanto estudar,
Garoto num tinha óculos e nem dinheiro pra comprar.

E segura essa malandro,
Adivinha que festança é aquela aculá
É o dito muleque comemorando porque passou no vestibular.

É
O noiado vai ser doutor
É tu que fica aí só julgando todo mundo
O que conquistou?

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Amar...

Amar é tarefa voluntária.
Assim como quem contempla o pôr-do-sol
É quem dá tempo à vida,
Amar é doar tempo ao outro.
Amar é tão simples
Que sempre inventam coisas complicadas pra chamar de amor,
Até parece que pra ter encanto tem de ser complexo.
O verdadeiro amor é feito água,
Sacia, faz bem
Sem nem precisar de sabor, cheiro ou cor.
Amar é tornar-se o leito do rio.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Tinhoso

Em frente a sala de treinamento da prefeitura, ouço:
- É tinhoso, debochado, é o diabo- falava a professora com toda força que só a indignação é capaz de dá.
-Mas tu tá falando de quem mesmo mulher- perguntei, pois a forma como ela falou me despertou curiosidade.

- Esse prefeito rapaz!!!
Só os professores que foram pro ato da prefeitura, sabe do que ela estava falando.

domingo, 10 de agosto de 2014

O tempo é impiedoso

Sexta-feira à noite, Ana e eu tomamos assento numa das mesas que estavam na calçada de um bar.
Pra nossa surpresa o garçom nos informou que não tínhamos muita opção de escolha na cerveja, pois a ponte que está quebrada no rio Arataú impossibilita a chegada de algumas mercadorias em nossa cidade, o que inclui a cerveja.
O cantor que animava a noite sabia passear pelo melhor de cada estilo da música brasileira, do brega ao requinte da mpb. Pra mim um ponto positivo do estabelecimento, nada melhor pra uma noite que uma boa canção à voz e violão, uma “breja” e um bom papo.
Não havia tanta gente, numa das mesas próximas, tinha um senhor já bem de idade, sozinho. Em determinado momento percebia-se que ele estava cochilando.
- Esse daí deve ter sido um daqueles machão que diz que não corre atrás de nenhuma mulher porque tem muitas por aí e acabou sozinho agora. – Comentou Ana.
Lá pelas 23h30, uma mulher aparentando ter 55 anos, loira, trajando uma camiseta azul e bermuda jeans, começou a dançar. A música que estava sendo cantada era a dama de vermelho, e a mulher passou a utilizar uma coluna de ferro que sustentava o telhado da calçada como se fosse uma pole-dance.
Quase todos ali começaram a olhar aquela cena horrorizados.
O cantor interrompeu a canção e de maneira extremamente deselegante falou:
- Com todo respeito, você é muito safada!
Fiquei imaginando a mesma cena com uma loira, só que 30 anos mais nova. Provavelmente seria a cereja do bolo na apresentação do cantor.
O tempo é impiedoso e a mulher é reprimida de se expressar em todos os momentos de sua vida!
Quando jovem tem de ter postura de “moça de família” pra não ser confundida com “uma qualquer” e não perder a oportunidade de se casar com um bom partido (acreditem ainda tem muito disso). E quando a idade avança, não pode, porque tem de apresentar um comportamento condizente com a idade, dá o exemplo aos mais novos (filhos, netos e o escambau).

Ana levantou-se pra ir ao banheiro, parou na mesa dessa mulher e a cumprimentou pela coragem.

O céu muda

O céu muda
Quando a mulher muda
Na luta
Conquista a fala que a opressão se fez calar.

A moça que admiro

A moça que admiro
É pátria
Que a liberdade fez latifúndio.

Despida de qualquer padrão
Veste-se de rebeldia
Contra o monstro-opressão.

A moça que admiro
É bruxa
Rejeita o contrato
E enfeitiça num olhar, num riso, num beijo ou num abraço.

No terreiro dos esfarrapados
Voz agitando a mente e aquecendo o sangue
Sal
Céu.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Vale ponto?

A Coordenadora Pedagógica entrou na sala de nono ano e depois dos cumprimentos formais, falou à turma:
- Pessoal tenho um convite pra vocês. Pra um passeio nos canteiros de obra da barragem de Belo Monte.
Logo começou um falatório só na sala.
- Mas quem for deverá fazer uma redação sobre a barragem e o melhor texto será premiado com um notebook e um smartphone- emendou a Coordenadora Pedagógica.
- Vale ponto? – indagou um dos alunos – Só vou se valer ponto, eu não sei fazer redação, não vou ganhar mesmo.
Escutei isso, e fiquei me perguntando quando a escola se tornou apenas um lugar aonde o sujeito acumula pontos pra alcançar uma média e no final de um período ser diplomado em determinado nível de escolaridade.
Parece que nada do que a escola oferece é mais atraente do que o tal ponto. Qualquer atividade que o aluno participe tem de valer uma nota. As ações na escola não vale por si só, pela aprendizagem, pela construção e reconstrução do conhecimento, mas o ponto que ela pode garantir ao aluno.

Deve ser esse um dos motivos do ensino ir de mal a pior. A escola há muito tempo não é atraente aos estudantes, e nos raros momento que o é, passa despercebido...