segunda-feira, 25 de junho de 2018

Resistência poética

Foto: BDC Altamira


Os moleques desobedecem as regras gramaticais
Aos domingos no trapiche do cais
Com batalha de rimas sensacionais
Mas como prêmio recebem batidas policiais.

Os pm diz estamos aqui porque denunciaram vocês
Disseram que estão puxando um na cara dura
Os canas novatos foram até educados dessa vez
Os MC's pretos e pobres fizeram dos versos suas armaduras

Mas em outro canto da cidade numa mansão
Onde mora a família de um doutor
Whisky e pó é produto ostentação
E o consumo é livre sem nenhum pudor

Não adianta falar que é um consumo intra-lar
Que ninguém está vendo o Dr. inalar
Beck, pó, pedra, não impediram o de vencer
É um exemplo de como proceder

A questão é que o Dr. sempre teve grana pra comprar
Nunca lhe faltou o ilícito que dirá a alimentação
Nunca precisou ir até à boca pra ter a pedra que lhe faz viajar
O produto sempre foi entregue na sua mansão.

E adivinha quem é o seu entregador
Sim, o muleque que o Estado abandonou!

O muleque sempre viveu na periferia
Sempre disseram que ele nunca venceria
E com as afirmações de fulano e cicrano
Um dia ele acabou acreditando

Saiu da escola pois lá nada ele entendia
Até ouviu falar de certas capitanias
Mas ele não compreendia
O que tinha haver com sua correria

Ligava a tv e a propaganda insistia
Adquira o smartphone da hora
Mas sem grana como compraria?
As minas e os trampos só lhe davam fora

Todos deviam saber que a exclusão
Anda de mãos dadas com a tentação
Por que vocês acham que parte da juventude
Vê no crime uma grande opção?

Num dos dias mais tensos de sua vida
Pra sua mãe faltava medicação
E para toda família faltava comida
Veio a grande proposta de entrega na mansão

O trabalho foi um sucesso
Foi como se tivesse ganhado um ingresso
Pra sair da fila da fome
Agora ele era o super-homem.

Dias vem, dias vão,
Sobrevivente do inferno
Não tem mais a falta de pão
Agora ele tem até pra diversão

Tudo indo às mil maravilhas
Uma longa carreira na mansão
E o muleque caiu na armadilha
Todos dizem é integrante de uma facção

Na noite passada foi preso portando pó
Sua nova casa agora é o xilindró
O Dr. não tem nenhuma preocupação
Outro irá cumprir a missão

Sabendo dessas tramas
Várias juventudes tem se organizado
Feito resistência cotidiana
Pelo crime não querem ser aliciados

É com grafites e rimas
Que os muleques tem se armado
Param até pra estudar
Pode olhar logo na esquina um muro estilizado

Mas aí vem um cidadão de bem
E denuncia a mulecada
Ouvir o rap não lhes covém
A orla tem que ser higienizada

É essa exclusão cotidiana
Preconceituosa made in K.K.K
Responsável por essa situação desumana
Onde a morte é a lei.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Todo fim de dia é um recomeço


Por quantas vezes
A solidão escrevera
Dor em letras garrafais
Na minha pele,

Mas veio você
Apagando cicatrizes
E reescrevendo amor
Num céu em que as estrelas dormiam.

A felicidade tem seu riso
E o amor,
É o dia inteiro com o brilho de seu olhar

Todo fim de dia
É um recomeço
Onde reencontro
A fonte balsâmica de todo cansaço,
Seu colo.

Amor,
Sei contemplar a vida!
Todo caminho me leva ao Lar de Maravilhas
Que é o beijo que sua boca me presenteia.

Nesse dia escaldante
É no inverno de teu corpo
Que desejo me molhar.

(Para meu amor, a poesia que me inspira todos os dias, Aline Pereira Vitoriano)
                                                                                                                                                                            

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Imunda



A mulher
Nua
Na rua

Imunda
Revirando
O lixo

O homem
A expulsa

A mulher
É só um
Bicho
Bagunçando
O lixo
Que merece
Tratamento
Adequado,

Ao contrário
Da mulher
O lixo
Estava arrumado
Tinha
Valor de mercado.